Fim da operação de patinete compartilhada em Porto Alegre não surpreende

Embora tenha pego prefeitura e população de surpresa pelo anúncio feito quando os equipamentos já haviam sido retirados das ruas nesta quarta-feira, dia 22/01, o fim da operação da Grin e da Yellow com patinetes elétricas de aluguel - modalidade compartilhada - em Porto Alegre não surpreende do ponto de vista econômico e operacional, e é coerente com a proposta da empresa.

As marcas apresentam a patinete elétrica como uma operação de micromobilidade, que é o transporte realizado em distâncias curtas, geralmente integrado a outros modais. Por exemplo, o uso entre a parada de ônibus, quando o usuário deixa o veículo, e o local de trabalho.

No Summ IT Imob, realizado em setembro passado em Porto Alegre, Milton Achel, à época gestor na Grow (união entre Grin e Yellow), definiu que a micromobilidade “não é a solução, mas é parte da solução” para problemas de mobilidade urbana.

Contudo, não era isso o que se percebia em Porto Alegre. Em quase um ano de operação do sistema na cidade, eu, que utilizo transporte coletivo diariamente, não lembro de ter encontrado com frequência uma patinete próxima a pontos de ônibus em condição de cumprir com a sua proposta de micromobilidade.

Outro fator a considerar para a baixa adesão era o custo, considerado alto para um transporte complementar: R$ 3,00 para desbloquear e R$ 0,50 por minuto de uso. Assim, o trajeto final de uma viagem de ônibus que fosse completado com o uso de patinete poderia custar o dobro ou mais do valor pago na passagem.

E embora pudesse registrar esse tipo de uso, o mais comum era ver as patinetes usadas nos finais de semana, em momentos de lazer em locais como parques e avenidas fechadas para o trânsito de veículos motorizados. Isso certamente não era economicamente sustentável para a empresa.

Além disso, a maneira como a operação chegou em Porto Alegre, sem comunicação prévia às autoridades e nem mesmo aos potenciais usuários, fez com que tanto seus propósitos como a otimização do seu uso fossem deixados em segundo plano. Um exemplo era que, após o uso, as pessoas deixavam o equipamento em qualquer lugar - embora pudessem fazer isso, já que não havia ponto fixo para estacionamento, muitas vezes interferia de forma negativa no trânsito de pedestres nas calçadas.
Patinete elétrica em Porto Alegre. Foto: Gustavo Roth/EPTC/PMPA (editada)


A partir de agora, já regulamentado, quando o serviço de aluguel de patinetes retornar à cidade, por esta ou outra empresa, deverá ser melhor assimilado.





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